Diário de Bordo

Diário de bordo da série de reportagens "Saída para o Pacífico", sobre a Rodovia Intereoceânica, projeto ganhador da Bolsa Avina de Investigação Jornalística com o tema "Integração da América Latina".

Nossa proposta conconcorreu com outras 510 de jornalistas da América Latina, Estados Unidos e Europa. Ficamos entre os 50 selecionados. A série de reportagem começou a ser produzida em outubro de 2008, depois que foram divulgados os nomes dos vencedores, entre eles a equipe da TV Rondônia. Abaixo o link com a relação dos selecionados:

http://www.avina.net/web/siteavina.nsf/0/920EB4A511D3562E8225750500617F88?opendocument&idioma=spa

Em janeiro, a equipe viajou pela Rodovia Interoceânica de Porto Velho até o pacífico, no porto de Matarani, no Peru. Foram quase cinco mil quilômetros percorridos em 21 dias. Nossa proposta é mostrar em seis reportagens:

- Estrutura física
- Viabilidade econômica
- Aspectos Turísticos
- Impactos ambientais
- Impactos sociais
- Aspectos Culturais

Durante a produção visitamos as cidades de Puerto Maldonado, Cusco, Juliaca, Puno, Arequipa e o porto de Matarani. Um pouco de toda essa aventura está nesse diário de bordo.

sábado, 31 de janeiro de 2009

Interoceânica ou Transoceânica?


Segundo o dono do restaurante a beira do tramo cinco da rodovia, de Arequipa a Juliaca, é Trans. Não sabe da mudança que houve. Mas quando explicamos ele responde: não importa, o sentido é o mesmo. E faz uma festa ao ver o carro que leva os brasileiros que viu na TV.
Põe música, mostra os trajes típicos, nos dá presentes. O filho pequeno também participa e pousa para a foto. Ficam tão contentes que nos contagiamos pela simplicidade e gentileza. Mais personagens que vão deixar saudade...
InterOcean or TRansOcean?
According to the roadside restaurant owner at the tramo five on the highway, from Arequipa the Juliaca, it is Trans. He does not know anything about the change. But when we explain it, he answers: it does not matter, the direction is the same. He parties at the sight of the car he saw on Tv. He plays music, shows the typical outfits, gives us some gifts. The small son also takes part and prepares for the picture. They are so happy that we get involved by simplicity and kindness. More characters which we will miss…

Santa Catalina

Pelas ruas estreitas do Monastério, praticamente uma cidade dentro da cidade, quantas segundas filhas de ricas famílias espanholas lamentaram o costume do isolamento em nome da religião? Foi assim durante alguns séculos. Sinal de prestígio para os pais das religiosas.


Até que o Santa Catalina se abriu e a freiras, agora por vocação, conservam o local. Os turistas se deliciam em tradição e arte. Conferimos cada detalhe desse monumento de Arequipa.

Santa Catalina
Through the narrow Monastery streets, practically a city inside the city, how many second daughters of rich Spanish families had lamented the custom of the isolation on behalf of religion? That is how it was during some centuries. Signal of prestige for the parents of the religious ones. Until the Catalina Saint was opened and the nuns, now for vocation, conserved the place. Tourists enjoy tradition and art. We confer each detail of this Arequipa monument.

De volta a Arequipa


Por causa das adversidades da estrada resolvemos dormir em Mollendo e voltar bem cedo a Arequipa. Tínhamos entrevistas agendadas, e conseguimos chegar a tempo. Para nossa surpresa a imprensa local já sabia da proposta da equipe brasileira, de investigação sobre a rodovia. Numa inversão de papéis passamos de investigadores a entrevistados. O presidente do Governo, o equivalente ao governador da região, nos recebe e comenta que a Interoceanica precisa de mais investimento para adequação no “tramo 5”, de Juliaca aos portos de Matarani e Ilo.
Ouvimos outras fontes importantes na cidade, graças ao apoio do embaixador Manuel Veramendi. Um arequipenho que já correu o mundo e agora volta a terra como representante do escritório regional do Ministério das Relações Exteriores. O diplomata é a síntese da cultura arequipenha.
Back to Arequipa
Because of the road adversities we decided to sleep in Mollendo and come back to Arequipa earlier. We had appointed interviews, and arrived in time. To our surprise local press was aware of the project on investigating highway. In a role inversion we became the interviewed ones. The Government president, the equivalent to the region governor, receives us and comments that Interocean needs more investment to be adequated to “tramo5”, from Juliaca to the ports of Matarani and Ilo. We hear other important city sources, thanks to the support of ambassador Manuel Veramendi. An arequipean who has already ran the world and now comes back to the land as a regional office representative of the stateDepartment. The diplomat is the synthesis of the arequipean culture.

Matarani: chegada ao Pacífico


Pegamos cedo a estrada. São 115 km, deles 40 km só de curvas bem fechadas. De dar tontura, não só no motorista como também nos passageiros. Mas tontos ficamos de emoção ao chegarmos ao Pacífico, objetivo de nossa viagem. O contraste do azul do mar com a paisagem árida de Matarani impressiona a nós, acostumados ao litoral exuberante do Atlântico. Na pequena península registramos a chegada da equipe ao porto e depois fomos à praia de Mollendo. Molhamos os pés nas correntes do oceano. Alguns mergulharam nas ondas, enfrentando o gelo para lavar a alma. Na areia, momentos de desconcentração, afinal depois de percorrer mais de 2.400 km, nada melhor do que curtir o fim de tarde ao estilo bem peruano de freqüentar a praia. O mais curioso são as tendas, parecem tiradas de um antigo filme: “Morte em Veneza”. Ao contrário do título, muita vida em Mollendo, até a despedida do sol.

A charmosa Arequipa


Arequipa foi a primeira capital do Peru. Conserva a arquitetura do período colonial. Bem mais imponente que outras cidades peruanas. As pedras de blocos vulcânicos dão a cidade um aspecto claro. Mas não é por isso que o lugar é chamado de cidade branca. O real motivo é a quantidade de espanhóis na época da colonização. Era a que tinha maior número em relação aos nativos.
Três vulcões se impõem na paisagem de Arequipa: Misti, Chachani e Sabancaya. De qualquer ponto pode se observar, e ás vezes sentir os tremores. Felizmente não experimentamos.
O que mais nos encantou foi o ar cosmopolita da segunda cidade peruana, com quase 800 mil habitantes. Caminhamos pelas ruas, “miramos” as lojas, contemplamos a Plaza de Armas. E também experimentamos a culinária local numa cevicheria. Desta vez, preferimos uma jalea, um prato de frutos do mar. Dormimos cedo para seguir viagem rumo ao pacífico.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Taquile




Depois das Ilhas flutuantes, visitamos Taquile, outra linha firmemente encrustada no lago. Apesar de sua formação rochosa, o local é habitado por agricultores que há milênios cultivam batatas em terraças construídas habilmente para conter a água em arar a terra. Terra aliás que foi trazida para a Ilha, para preencher as terraças.
Os habitantes também criam ovelhas, lhamas e alpacas. As mulheres tecem enquanto caminham pelos degraus, naturalmente, enquanto nós, mal conseguíamos respirar de tanto esforço em subir na ilha montanha. Senhor Miguel, 77, um escrivão aposentado que nos acompanhou, também deu exemplo de resistência.
O almoço foi um restaurante simples, mas muito charmoso. Jardim com muitas rosas e outras espécies de flores, janelas amplas para apreciarmos a visão do Titicaca. Simples e inesquecível.
O povoado de Taquile compõe com prefeita integração a beleza natural do lago. Nas ruínas de uma casa de armas a força da tecnologia Inca. Vários degraus, capitaneados por Jorge, foram um esforço que valeu a pena.

Ilhas flutuantes

Um dia inteiro de passeio pelo Lago Titicaca, o lago sagrado dos Incas. Com direito a guia formado em história americana professor da sourbone. Jorge se aposentou e voltou para a terra natal pelo simples prazer de explicar aos turistas a origem do povo nas Américas.
Os Uros, segundo ele, são dos povos mais antigos. Vivem em Ilhas flutuantes feitas de “totora”, uma planta própria do lago com fibra leve, que serve de sustentação para as ilhas. Visitamos uma delas, uma experiência surpreendente e emocionante. Pisar no chão frio úmido, sentar em bancos de totoras amarradas e escutar a explicação da tecnologia engenhosa dos Uros foi só o começo.
O grupo faz uma encenação para apresentar seus costumes: o modo como cozinhar o peixe entre duas pedras quentes, o artesanato, o sistema de troca entre as comunidades. O mais tocante é quando as mulheres convidam a entoar nas pequenas casas de apenas um cômodo e nos vestem com suas roupas típicas e trancam nossos cabelos para adorná-los com um enfeite e um chapéu.
O gesto carinhoso desencadeou sentimentos estranhos. Uma nostalgia de um passado remoto. As lágrimas inevitáveis turvaram a visão colorida de tão lindos trajes. Por último passeamos de balsa, balsa construída de totora. As mulheres cantaram canções em Quéchua, em espanhol, francês e português. “Isso aqui ôôô, é um pouquinho de Brasil, ia ia, Esse Brasil que canta e é feliz, feliz, feliz.... com sotaque urenho.